quarta-feira, 16 de março de 2016

Dono de smartphone acha que post anticorrupção é melhor que ir à polícia


Pesquisa mostra que 51% dos donos do aparelho em SP creem nisso.
Estudo da Ericsson traz efeitos da cultura de compartilhar informações.
Para metade dos moradores da cidade de São Paulo que possuem smartphone, recorrer a redes sociais para expor práticas ou empresas corruptas tem maior impacto do que chamar a polícia. O dado faz parte de uma pesquisa sobre compartilhamento de informações online, que será divulgada nesta quinta-feira (16) produzida pela Ericsson e a qual o G1 teve acesso com exclusividade.

A empresa sueca ouviu mais de 5 mil donos de iPhones e smartphones que rodam Android em dez grandes centros urbanos do mundo (São Paulo, Berlim, Chicago, Nova York, Joanesburgo,Londres, Cidade do México, Moscou, Sydney e Tóquio).

Os moradores da capital paulista não estão sozinhos, mas acima da média mundial. O índice dos entrevistados que confiam mais em publicar online casos de corrupção do que em procurar forças do poder público é de 37%. Mais descrentes que os brasileiros, só os mexicanos: 63%.

“Eu acho que isso demonstra que a gente está com um pouquinho de desconfiança. A gente se sente mais seguro denunciando de forma informal do que formal. A gente acha que, já que não vai acontecer nada, postando, pelo menos, consegue mostrar para algumas pessoas o que aconteceu”, comenta Júlia Casagrande, gerente de marketing da Ericsson na América Latina.

Mais da metade dos donos de smartphone (54%) acreditam que as ferramentas digitais criaram novas oportunidades para apontar o comportamento ilícito de empresas e autoridades públicas.


Jovem tira fotografia com smartphone no topo do Edifício Itália, em São Paulo. (Foto: Divulgação/Ericsson)

Compartilhamento online


Fazer denúncias online é uma das dimensões da maior disposição dessas pessoas de compartilhar informações sobre si na internet. Tanto que 69% dos ouvidos pela pesquisa dizem publicar mais dados pessoais na internet do que há dois anos – 70% publica, pelo menos, uma foto por semana.

“Antigamente, a gente dizia que tinha três assunto que não podiam ser discutidos: religião, política e futebol. Hoje, se você fizer um filtro nas redes sociais, são os assuntos mais discutidos. A gente não discute na mesa do bar, mas coloca na rede para atingir uma massa maior”, comenta a executiva. “As pessoas se sentem mais protegidas pela tela.”

Segundo Casagrande, impulsionam a cultura do compartilhamento a maior conectividade. “Qual é o país e a grande cidade que não está conectada, que não tem acesso a smartphone? Todo mundo tem acesso a tudo.”
'Waze da criminalidade'
Essa cultura do compartilhamento criou um segmento de empresas. Algumas ferramentas do mundo digital só funcionam se seus usuários estiverem dispostos a colaborar com informações. É o caso do aplicativo “City Cop”, uma espécie de “Waze da criminalidade”.

No serviço, em vez de apontarem pontos de congestionamento e acidentes na via, como faz o app famoso, os usuários são convidados a denunciar crimes cometidos, que são listados em um mapa. O serviço permite indicar casos de vandalismo, venda de drogas e até homicídios. Nesta quarta, incluiu um novo item: extorsão e corrupção. “Quantos e quantos casos a gente não conhece de alguém que foi extorquido por um policial ou um fiscal?”, afirma Carlos Miranda, diretor-geral do City Cop no Brasil.

Júlia Casagrande, gerente de marketing da
Ericsson na América Latina. (Foto: Divulgação/
Ericsson)


Permitindo publicações identificadas ou anônimas, o app já recebeu quase 20 mil denúncias em menos de 15 dias de atuação no Brasil. “Muitas vezes você vê um delito na rua e não vai para a delegacia denunciar aquilo ou prestar informações à polícia”, diz Miranda, para quem o serviço aproveita tanto do maior senso de comunidade quando do enfraquecimento de instituições.

Criado no Uruguai, o app está presente na Argentina e no Chile, onde possui uma parceria com a polícia para abastecê-la com informação. Em Seattle (EUA), por meio de um projeto piloto, é possível acionar agentes pelo app. A possibilidade de disseminar boatos existe, admite o executivo, mas é combatida por meio de um sistema de verificação das publicações dos usuários muito ativos.

Consumidor
A pesquisa da Ericsson mostra que a cultura do compartilhamento também afeta a relação entre consumidores e empresas com que tiveram problemas. Mais da metade dos entrevistados acreditam que publicar opiniões sobre companhias na internet dá a eles mais poder. Entre os brasileiros, esse percentual chega a 64%.

“Antes, quando não tinha redes sociais, você ficava preso a um ‘0800’ ou a uma linha direta, que a gente sabe como são”, diz Casagrande, da Ericsson. “A partir do momento em que todo mundo começou a entender que expor uma marca negativamente traz malefícios para a empresa, elas têm que agir mais rápido.”

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